quinta-feira, 18 de novembro de 2010

A COMPREENSÃO DO MAL NAS PRINCIPAIS RELIGIÕES E NA FILOSOFIA


A RELIGIÃO PERSA

O dualismo cosmológico e religioso, características fundamentais das antigas religiões Pérsicas, tem suas raízes no pensamento do filósofo iraniano Zaratrusta. Zoroastro, que foi o reformador da religião que o precedeu, afirmava a existência de um ser supremo, o qual criou dois seres menores. Estes seres menores, que possuíam a mesma natureza daquele que os havia criado, eram chamados de Ormuzd e Arimann. Ormuzd permaneceu fiel ao seu criador e, por isso, foi considerado o deus bom, origem de todo bem. Em contrapartida, Arimann se rebelou contra seu criador, tornando-se, assim, o autor de todo mal existente na terra. O deus bom criou o ser humano e lhe deu todos os recursos necessários para sua realização. o deus mau, no entanto, frustrou essa felicidade, introduzindo o mal no mundo e criando as feras, plantas e répteis maus. Como conseqüência desta criação de Arimann, o mal é uma realidade inerente em toda as coisas existentes .
Entre Ormudz e Arimann, princípio das realidades existente, há uma luta permanente. Da mesma forma, os adeptos de Ormuzd e Arimann, seguindo seus criadores, travam uma incessante guerra. O otimismo deste mito oriental está na perspectiva de que chegará um momento em que os adeptos de Ormuzd serão vitoriosos e Arimann, bem como seus partidários serão condenados às trevas eternas .
 
 
 MAL SEGUNDO A BÍBLIA (JUDEUS E CRISTÃOS).

Todo o antigo testamento é percorrido pela questão do mal. O livro de Jó é a mais importante sistematização desta questão. Este personagem bíblico personifica toda a revolta daqueles que são tementes a Deus e são atingidos pelo mal. Sendo homem justo, Jó, diante da desgraça que ocorreu em sua vida, pergunta-se: “Por que os ímpios continuam a viver, e ao envelhecer se tornam ainda mais ricos” (Jó 21, 7) .
O profeta Jeremias, da mesma maneira que Jó, não consegue conter sua revolta diante da prosperidade dos homens injustos. “Porque prospera o caminho dos ímpios Porque os apóstatas estão em paz” (Jr 12, 1b), pergunta ele a Deus. O salmista, que enfrenta a mesma situação de Jó e Jeremias, declara a Deus: “Por pouco meus pés tropeçavam, um nada, e meus passos deslizavam, porque invejei os arrogantes, vendo a prosperidade dos ímpios” (Sl 72, 2-3).
Por que os justos sofrem Eis a pergunta que percorre toda a Bíblia . O próprio Filho de Deus, aquele que veio para vencer o mal, encontra diante de si o mistério do mal e clama do alto da cruz: “Deus meu, Deus meu, por que me abandonastes” (Mt 28, 46).
Entre tantas respostas bíblicas, as mais sábias e satisfatórias são as seguintes: “Falei de coisas que não entendia” (Jó 42, 3b) e “Pai, em tuas mãos eu entrego o meu espírito” (Lc 23, 46b) .
A partir destas respostas nos é possível tirar duas conclusões: 1. o mal é um mistério insondável; 2. o triunfo do bem sobre o mal não parece possível no tempo presente .

O MAL METAFÍSICO - PRIVAÇÃO DO BEM

Após destacarmos os principais elementos em torno do mistério do mal a partir das principais tradições religiosas (pérsica, grega e judeu-cristã), resta-nos agora investigarmos o mal numa perspectiva ontológico-metafísica, tipicamente antiga e medieval, como privação de bem .
Do ponto de vista teórico estamos diante da seguinte pergunta: O que é o mal
Uma resposta à esta pergunta nos é dada por Albert Einstein: “O mal não existe, pelo menos por si mesmo... é simplesmente a ausência do bem… é uma definição que o homem criou para descrever a ausência de Deus.... é o resultado da humanidade não ter Deus presente em seus corações” .
Plenamente de acordo com Albert Einstein, o frei Hubert Lepargneur nos ajuda a responder melhor a questão em pauta. “O mal é aquilo que, em si, não se justifica, não tem sentido, não existe. O ser é que é. Toda explicação de mal tem que tomar recuo. O ser do mal é um certo não-ser” .
Para melhor fundamentarmos tais respostas, nos serviremos agora de Santo Agostinho, que conseguiu elaborar um pensamento digno de consideração para toda investigação em torno do mal sob o prisma que nos interessa.

O MAL SEGUNDO O (SANTO) FILÓSOFO AGOSTINHO DE HIPONA.
 
Ao grande mistério do mal, conseguiu Agostinho apresentar uma explicação que se tornou ponto de referência durante séculos e ainda hoje conserva sua validade. A pergunta que perpassa a investigação de Agostinho em torno do mistério do mal é a seguinte: Se Deus é autor de todas as coisas existentes e é sumamente bom, qual é a origem do mal
O Santo de Hipona, depois de ter sido vítima da explicação dualista maniquéia , encontra, a partir de Plotino, a chave para concluir que Deus não é a causa do mal. Mas, qual é a conclusão de Agostinho
Plotino interrogando-se sobre a definição e a proveniência do mal, afirma que “o mal é ausência, falta do bem”, mas identifica esta falta e privação do bem com a matéria. Segundo o mesmo filósofo, o mal não pode residir naquilo que é nem no que transcende o ser. Ele só está presente nas realidades materiais, porque elas se acham mescladas de não-ser .
Da definição dada por Plotino, Agostinho aceita a primeira parte, ou seja, o mal como ausência ou falta do bem, mas não a segunda, porque segundo o Santo a matéria não pode ser má porque foi criada por Deus. Eis, então, a conclusão de Agostinho: “Todas as coisas que existem são boas, e aquele mal que eu procurava não é uma substância, pois, se fosse substância, ou seria substância corruptível, e então era certamente um grande bem, ou seria uma substância corruptível, e nesse caso, se não fosse boa, não se poderia corromper” .
Para Agostinho, nas palavras de Zampieri, “... o mal não é uma substância ou um ser. O mal é justamente a privação e a carência de ser. O mal é privação de uma perfeição que a substância deveria ter” . Rossi nos ajuda a melhor compreendermos que o mal não é uma realidade, mas constitui “... uma lacuna, uma falha, algo puramente negativo, isto é, o não ser de uma coisa que, sendo real, só pode ser um bem. O mal, portanto, é falta de vontade, é ausência de bem” . Ou ainda, “... o mal não é outra coisa senão privação ou corrupção do ser, da natureza que em si é um bem, mas, corrompida, torna-se má” .
Após ter concebido o mal como “privatio boni” (privação de algum bem), Agostinho aprofunda ainda mais a questão e examina o mistério do mal em três níveis, a saber: a. metafísico-ontológico; b. moral; c. físico .
Sob o ponto de vista metafísico-ontológico devemos destacar que, segundo Agostinho, não existem seres maus no cosmos. Até mesmo os animais mais ínfimos e peçonhentos em si mesmos são bons e se enquadram perfeitamente na ordem do universo . O que existe, segundo Agostinho, são graus inferiores de ser em relação a Deus, dependentes da finitude das coisas criadas. Estes graus inferiores, no entanto, embora possam parecer defeitos, uma realidade má, são seres bons sê analisados na articulação harmônica das coisas criadas .
O mal moral é o pecado. Ele depende exclusivamente da má vontade humana. Esta, no entanto, não se caracteriza como uma realidade má, mas, ao contrário, como um bem. É pelo mau uso desta capacidade que pecamos. A natureza original da liberdade humana deveria nos levar à busca dos bens superiores (Bem Supremo), no entanto, por existirem muitos bens criados e infinitos, ela pode tender a estes bens inferiores. Desta forma, a caracterização do mal moral é o mau uso da vontade livre que o homem possui .
O mal físico (doenças, sofrimentos, a morte...), para Agostinho “... é a conseqüência do pecado original, ou seja, a conseqüência do mal moral” . Desta forma, ele não pode ser atribuído a Deus, mas “São penas sofridas pelo homem devido ao primeiro pecado” .
A partir desta concepção de mal, conforme já fizemos notar, Santo Agostinho conseguiu elaborar um pensamento que se tornou ponto de passagem obrigatória para toda e qualquer investigação em torno do mal considerado a partir da perspectiva ontológico-metafísica da privação de bem.

Fonte: http://www.webartigos.com/articles/44222/1/-A-QUESTAO-DO-MAL-A-PARTIR-DE-UMA-PERSPECTIVA-ONTOLOGICO-METAFISICA-COMO-PRIVACAO-DE-BEM/pagina1.html#ixzz15ddsJ9Lr
 



 
 



 



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